TEM SPOILER
Minari se passa nos anos 80. David (Alan S. Kim), um menino coreano-americano de sete anos de idade, que se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente quando seu pai, Jacob (Steven Yeun), muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. Entediado com a nova rotina, David só começa a se adaptar com a chegada de sua vó. Enquanto isso, Jacob, decidido a criar uma fazenda em solo inexplorado, arrisca suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família.
Neste lindo filme encontramos a doença, de vida e morte, como mensagem de amor. Talvez esta mensagem queira assinalar a Dinâmica Oculta e inconsciente do Amor cego, quando um descendente é tomado pelo destino de um excluído do passado no grande “icloud” do sistema familiar, se identificando com seus comportamentos e padrões como se deu para compensar ou expiar uma culpa que não foi assumida por responsáveis na época.
Esta dinâmica inconsciente daquele que vem depois (menor) e quer carregar o fardo de quem vem primeiro (maior), acreditando ser o herói do tamanho dos ancestrais se manifesta na doença incurável do menino David, no tempo imediato de vida e morte, podendo se dar, a qualquer tempo, enfrentada pelos pais do menino – os koreanos Jacob e Mônica.
No Campo do Familienstellen a postura fenomenológica frequentemente do amor claro se dá trazendo clareza, quando se reconhece e acolhe o excluído ou as possíveis vítimas da tragédia em questão, dando-lhe um lugar no coração.
Ao mesmo tempo reconhecendo que não se pode mudar o passado entregando para os responsáveis pela exclusão ou o agressor das vítimas da tragédia que atua no destino do menino David, o que a lhes pertence, dando-lhes um lugar no coração, sem julgamento ou condenação, incluindo todos do passado no amor saudável no aqui e agora, expandido a consciência familiar para o que tudo acolhe, abrindo caminho para uma vida plena e feliz.
Com a chegada da avó, o menino David a recebe com rude trato demonstrando seu descontentamento com presença dela. Esta antipatia pela avó assinalava que algo não estava certo no passado, pois sem razão alguma, esta avó com inteligência e humildade tenta conquistar o neto David.
Nesta toada em dado momento a avó toma conhecimento do quanto o neto sofria com uma doença incurável. Num dia de cuidados com o menino David, numa crise da enfermidade, a avó se deita ao lado da cama do neto, olhando para ele com preocupação e amor.
No bom estilo asiático o Diretor constrói a cena evidenciando o olhar da avó, inundando de significado profundo de humanidade, a imagem dela deitada no chão ao lado do neto doente.
No Campo onde as Constelações se configuram por meio dos representantes e suas ressonâncias da questão colocada, o olhar é um caminho de clareza, verdade, onde se dá e se desfaz, ressignificando o que foi e não é mais, traduzida pelas sensações de leveza, alegria substituindo o peso, congelamento e tremedeira iniciais.
Pelo olhar o Campo sugere frases tipo: “Eu Te vejo”, “Agora sei”, “Eu carrego isto por você, porque agora sei”. Em se tratando da Avó que é maior e veio primeiro, “olhar” para onde o neto “olha” (emaranhado) e tomar para si o que ele carrega é um caminho de cura, já que ela tem a força da ancestralidade para fazê-lo ou o reconhecimento que “aquilo” pertence a ela.
Nas cenas seguintes a avó é hospitalizada com perigo de quase morte e misteriosamente o neto se cura do mal fatal que o consumia. Histórias como esta são catalogadas na Hellinger Sciencia com certa frequência, com pessoas que foram consteladas e carregavam em seus destinos algo do sistema familiar e compreenderam a respeitar o destino dos ancestrais como se deu e deixar com eles o que é deles, sem tentar mudar o que se deu. Compreendendo ainda, que não há como salvar algum ancestral excluído ou vítimas de alguma tragédia trazendo para si as consequências devidas aos envolvidos do passado. Compreende-se finalmente, que respeitando o passado dos ancestrais, com amor e honra, pode-se liberar deixando tudo como foi e construindo no agora a própria história.
Tudo por amor. Tudo sempre por amor.
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